Dramas da vida real.
Amélia Folques
É confuso e até a ser dramático chegar á minha idade e ser corrigida graças ao acordo ortográfico, a roda dos alimentos que se virou do avesso, e até o simples acto de cumprimentar se tornou um bicho de 7 cabeças.
Em qualquer encontro, convívio social deparo-me com esse dúvida 1, 2 beijos ou aperto de mão? Fui educada nos 2 beijos e assim foi até regressar a Lisboa. Vivi na Madeira e ai era 2 beijos, sempre, não havia margem para dúvidas. Desde que voltei confronto-me com esta dúvida, será esta pessoa é de 1, 2 beijos ou de aperto de mão? Se estiver no Algarve, Trás-os-montes, ou na Madeira estou bem é 2 beijos.
Vivi toda a minha adolescência na linha de Cascais e na minha adolescência eram 2 beijos, sem hesitações. Agora na linha é a confusão completa, se tenho um convívio, jantar, almoço, encontro social lá vou eu para a “luta”, voluntariosa e generosa cumprimento com 2 beijos, 70% das vezes lá fico eu com a cara suspensa. As pessoas cumprimentam com aquele ar de descaso, enfado, bem como se fosse uma maçada. Já dar 1 beijo é uma canseira quanto mais 2.No fim a coisa já corre melhor, registei mentalmente e tenho as tabelas com 1, com 2, com aperto de mão e aqueles que bom era dar uma cabeçada, e assim a coisa não falha. Verdade seja dita esta preocupação também tenho que a ter no Porto, já aderiram á moda de me baralhar.
Não é suficientemente mau ter esta inquietação no social, quanto mais no campo religioso, imaginem na missa. No momento em que o Sr. Padre resolve dizer “ saudemo-nos na paz de Cristo” eu estremeço, olho à minha volta e analiso a situação, serão de 1,2 beijos ou aperto de mão?
Se estiver rodeada de homens agradeço a Deus e penso isto com um aperto de mão se resolve. Mentira, os cavalheiros também querem beijo e volto eu ao meu desassossego.
É o momento da missa que mais detesto. Mas há quem adore. Já vi pessoas que devem tirar esse momento da missa para baterem recordes de beijos, fazem autênticas piscinas na Igreja a angariar o maior número de saudações. Penso mesmo se não existirá este desafio no “guiness” e estarão a treinar.
Por vezes cruzo-me com pessoas que não conheço, ou conheço relativamente pouco tempo e compreendo que seja de 1 beijo pois não conheço a família nem as suas tradições e se existe esta ideia logo teve que surgir em algum lado. Mas todos aqueles que privei em criança, adolescente ou mesmo aqueles que sabemos de onde vêm e agora aparecem com 1 beijo, abomino, mesmo. Como estranho imenso aquelas pessoas que ao beijar nem tocam na outra, fazem um ligeiro ensaio da saudação.
Adoro mesmo é quando o cumprimento é um beijo na mão. Surpreende-me sempre, é o tipo de cumprimento personalizado, toca-me de outra forma. A mim me encanta deparar-me com um cavalheiro, é pena é ser algo em desuso.
E por favor desçam à terra e Sr. Padre acabe com as saudações na missa, eu quando vou quero paz e sossego. É que não gosto mesmo de beijar estranhos, isto de oscular por aí não é para mim.