Não fico no sofá.
Amélia Folques
Conseguiram que eu fosse a uma manif, eu que nunca tinha alinhado em nenhuma. Os meus actos de cidadania resumem-se a ajudar alguma organização que me peça colaboração, ir votar, ser civilizada, pagar os meus impostos e manter-me minimamente informada do que me rodeia. Enfim sou muito fraca em termos de intervenção cívica. Já tinha feito aqui no meu blog o meu Mea Culpa num texto (Eu cidadã acuso-me ...) quando aconteceu a tragédia de Pedrogão. Aceito e assumo que me atirem á cara que parte da culpa reside em nós, povo manso, conformado e resignado, que não se faz ouvir.
Quando apareceu a convocatória nas redes sociais que iria haver uma manifestação de homenagem às vítimas, em defesa do nosso património florestal, do nosso interior disse a mim mesma está na hora de te juntares ao teu povo. Vai ser mais uma voz de um Portugal esquecido, enlutado e sofrido.
Apesar da maioria das pessoas que me rodeiam dizer que era um disparate, que não vale a pena, tudo fica na mesma. Para mim não. O que aconteceu é demasiado grave para não tomar posição física no meu protesto, no meu apoio ao meu povo, a minha solidariedade embora débil tem que acontecer. Reorganizei a minha vida, pois não sou sozinha tenho família que depende de mim. E fui.
Ainda bem que fui. Tive a oportunidade de ver como o nosso povo é educado, cordato, é solidário, é voluntarioso e generoso. A noite estava chuvosa, a manif foi convocada no mesmo dia e mesmo assim a praça em frente do Palácio de Belém estava repleta de anónimos, familiares das vítimas que estavam ali para expressar a sua tristeza, o sentimento de abandono que o nosso povo foi remetido nestas tragédias, a injustiça a que foram submetidos. Estávamos lá para dar rosto às vítimas que não podiam lá estar, pelos mortos, feridos, despojados. Estávamos lá porque queremos um futuro sustentável. Estávamos lá para dizer que somos um todo.
Eu quero que isto nunca mais se repita, eu quero que o Governo cumpra para o que está mandatado e entre milhares de coisas está o essencial, o cerne da Governação, o povo. Eu quero que garantam as políticas de segurança pública, de proteção e socorro á população e ao nosso território. Essas premissas são sagradas.
A manifestação era feita por todo tipo de gente e de todas faixas etárias, embora o número de jovens entre os 20 e os 30 anos fosse bastante significativo.
Não houve expressão política na manifestação, isto é, não havia ninguém identificado como pertencente a alguma ala politica, não surgiram grupos nesse sentido. O que aconteceu é que no meio das palavras de ordem que se gritavam como acorda Portugal, vergonha, justiça ou mesmo vai de férias havia uns elementos que tentavam introduzir palavras mais fracturantes e radicais sem sucesso. A multidão não os seguiu, efectivamente os repudiou. Foi tudo feito com a máxima dignidade e cidadania.
Fizemos o nosso minuto de silêncio pelas vítimas na maior paz.
O hino foi cantado, é sempre uma forma de nos agregar, dar-nos identidade. Esta manifestação também é disso que trata não perder as raízes, não esquecer donde viemos, quem somos.
Sábado continuarei nesta missão. Juntar-me ao coro de vozes e fazer ouvir o povo.
Acorda Portugal o povo somos todos nós.
Somos um povo respeitoso, merecemos respeito.
Somos um povo digno, exigimos dignidade.
Basta, não somos piegas nem infantis somos Portugueses.