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Amelices e outros estados de alma

50 e´s ainda à procura do sentido da vida.

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Amelices e outros estados de alma

28
Abr17

Os Filhos de Abril e o fundo de desemprego


Amélia Folques

Direito ao trabalho está declarado na carta de direitos Humanos.

Ontem tive mais uma infeliz notícia, uma pessoa dos meus conhecimentos tinha sido despedida. Já perdi a conta das pessoas que conheço na faixa etária dos 50 e “qualquer coisa” que o foram. Não por serem maus trabalhadores, desordeiros, incompetentes, desleixados, mas porque a empresa “sofreu” mais uma restruturação. As vítimas têm sido aqueles trabalhadores que estão nas empresas com folhas de 20 e muitos anos a dar o seu melhor, a torcer pela camisola da empresa, com brio, disponibilidade e afinco. Estes são os filhos de Abril.

Andávamos nós na instrucção primaria quando aconteceu o 25 de Abril. Fomos estudando, fazendo o nosso caminho pensando que os direitos básicos Humanos nunca nos seriam roubados. É uma geração que sabe o que são direitos e deveres e sempre cumpriram com os seus. Muitos passaram por 2 ou 3 empresas no máximo, onde se envolveram, se empenharam muitas vezes em prejuízo da sua vida familiar, particular. Fizeram as suas carreiras a pensar que a competência, o interesse, o empenho era a sua maior valia. Gente trabalhadora, preparada quer civicamente quer a escolaridade ser a mais adequada para as funções que desempenhavam. Gente que foi sempre aprendendo e estudando, evoluindo conforme o mercado assim o exigia.

Ultimamente foram vendo os seus salários serem reduzidos mas era o “efeito” da crise disseram uns, depois restruturações nos financeiros, recursos humanos, comerciais, etc era para flexibilizar e tornar as empresas mais competitivas dizem outros. Restruturações no departamento e nunca se furtaram aos novos ventos e reinventaram-se, adaptaram-se. O departamento onde trabalhavam tinha trabalho, havia novos desafios, até entravam 1 ou 2 estagiários, o que dava a ideia de continuação, futuro e expansão. E chega o dia sem aviso prévio que é despedido. Assim direito para o fundo de desemprego.

Estou a falar de gente em que as empresas não podem apontar condutas indevidas, mau desempenho, desinteresse ou desmotivação. Gente que fez o seu trajecto sem padrinhos, compadres ou partidos. Gente que quis mostrar o que valia, deu o seu melhor e é tratado com este descaso, desinteresse e um aviltante desprezo. A comunicação social, a sociedade civil, os governos, os políticos, os sindicatos, a malha empresarial não quer saber deste drama, deste flagelo que atinge estas pessoas que é chamado de rescisão por mútuo acordo. Esta gente é incómoda para os interesses vigentes da sociedade actual.

O silêncio dos sindicatos indigna-me e não é só o dos bancários que ainda há pouco tiveram aquele triste acontecimento de um trabalhador com o perfil que descrevo se suicidou no local de trabalho, o do ramo automóvel, das telecomunicações, etc. Não denunciam este extermínio, bem localizado, cirúrgico a esta população bem identificada, trabalhadores com 50 e alguns anos, 20 e tal anos de descontos na segurança social e folhas de serviço imaculadas, sem nodoa.

O que se pretende??? Não sei sinceramente. Não é novidade que a partir dos 50 anos arranjar emprego é tarefa muito difícil e em algumas áreas impossível. Antes do mais porque não existe mercado de trabalho neste país. A maioria desta população ainda tem filhos a estudar, casas a pagar, encargos vários e todos sem serem luxos ou vícios. O que vão fazer até atingir a idade de reforma e até essa tem as regras alteradas todos os anos. Vão sobreviver em vez de viver…

Dentro de poucos anos temos um país com desempregados de longa duração com todos os custos que isso acarreta psicológicos, sociológicos, saúde elevadíssimos. As empresas passam a dar trabalho aos mais jovens mas mal remunerados, sem regalias, planos de saúde, que se sujeitam a quase tudo e sobretudo sem voz. O país estará mais pobre a todos os níveis, mais miserável. O país e as empresas irão pagar caro nos próximos anos essa desqualificação de quadros.

E Abril não deveria garantir a carta dos direitos humanos?

O direito ao trabalho confere dignidade, independência, orgulho, ser útil, ser activo na sociedade ao cidadão. É um direito e é um dever que todos os cidadãos o possam exercer. 

E como ser pária não faz parte do ADN dos filhos de Abril esta realidade é indigna, é ultrajante. É revoltante.

 

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