Sabão azul e branco
Amélia Folques
Assisti a uma conversa entre mãe e filha. A filha uma mulher por volta dos 30 e muitos 40 anos, a mãe com cerca de 70 anos. A filha explicava à mãe que não podia voltar para o marido, ele a tinha traído com outra mulher e ela não estava disposta a aceitar. A mãe explicava-lhe para não tomar esta decisão a quente, para dar tempo, cerca de 3 meses para compor a relação. A filha mulher bem assertiva e com uma excelente auto estima respondeu à mãe, ele enganou-me agora, se aceitar desta vez ele vai voltar a fazer o mesmo não sei é quando, eu quero respeito, dignidade. A mãe voltava com muita calma a pedir á filha para não deitar tudo a perder, não tomar nenhuma decisão agora, para adiar e reconsiderar.
Apeteceu-me intervir. Estou assim no meio das duas. Compreendo a urgência da filha em querer acabar com tudo. Como ela dizia está casada algum tempo, o marido conhece-a bem, se ela relevar esta infidelidade, indirectamente estará sujeita a outras que aí viram. Entendo a mãe e o seu velado cepticismo no que concerne ao amor.
O que consigo perceber de histórias de infidelidades no masculino é que o que a filha diz é verdade. Ao permitir, fechar os olhos, branquear ou disfarçar a ocorrência de uma traição física, sim porque existe as que não são físicas, não necessariamente consumadas com uma terceira pessoa e acho que ferem talvez mais que estas infidelidades, está-se sujeita a que eventualmente se repitam.
Mas também é verdade, pelo menos é assim que vejo estes tristes e por vezes mortíferos acontecimentos num casal é que um homem ao cometer adultério não é o fim do mundo. As mulheres tendem a fazer a comparação com elas e se fosse eu que tivesse sido infiel? Não pode ser feita assim a comparação, a infidelidade no feminino e no masculino são dois universos completamente diferentes e distantes, milhares de horas de luz. Um homem dá uma “escapadela” só pela aventura, adrenalina, tentar afirmar algo a ele próprio acima de tudo. Ou só e mais nada por ter alguém que lhe alimente o insaciável ego, elogie a sua personalidade, glorifique o seu orgulho. Alguém que lhe chame de Tarzan, tigre ou mesmo Sandokan. Os homens precisam deste reforço talvez porque são mais inseguros. Depois têm a coisa extraordinária de separar o papel da mulher e das outras relações de pozinhos de perlimpimpim. Estas ditas conquistas só lhes servem para os enaltecer e vangloriar nem que seja perante eles próprios, talvez só para gozo e realização pessoal.
Compreendo o papel da mãe a tentar desvalorizar a infidelidade do genro, e pedir à filha para pesar bem como tomar as suas decisões.
Nunca no meu casamento o meu marido me brindou com uma encruzilhada destas, logo tudo o que aqui escrevo é resultado de observar, ver o que acontece ao meu redor. E constatar que cerca do 90% de divórcios que acontecem é o resultado de infidelidade do marido.
Mas questiono-me se fosse uma das minhas filhas a pedir-me ajuda, conselho nesta matéria o que diria. Diria que sim, que ao aceitar, perdoar este episódio estaria implicitamente a abrir a porta a outros que por ventura surgissem, isso sem dúvidas, o futuro em relação a esta área será sempre incerto. Mas sobretudo diria para fazer o que o seu coração ditasse. Só ela conhece o marido, só ela sabe o que quer dessa relação, e o que quer para ela. E se não conseguir viver com essa permanente dúvida é melhor seguir noutra direcção, pois a suspeição irá consumi-la. Também pode ser que ele não volte a se por a jeito e tudo se reorganize. Numa relação a dois desde que aja real vontade tudo é possível ou não...
Lembrei-me daquela velha máxima lava com sabão azul e branco, lava mais branco e tira as nódoas mais difíceis.