Estive no mundo das telecomunicações 30 anos. Entrei nesse terreno fértil logo que acabei o curso em pleno grande boom das telecomunicações, no enorme projecto da digitalização das centrais telefónicas em Portugal. A modernização da rede CTT e TLP estava a cargo da Siemens e da Alcatel, eu era colaboradora da Siemens.
Não posso dizer que tudo o que hoje nos socorremos para viver nestes dias estranhos e que nos apoiamos fortemente que são as tecnologias seja graças a estas duas grandes empresas porque já existia uma rede telefónica Nacional. Limitámo-nos a enriquecê-la, agilizá-la e modernizá-la.
Fui da Siemens para os CTT que foram TP que foi PT que passou a Meo e por fim Altice.
Nesses tempos entraram facilidades nos telefones fixos impensáveis para as pessoas: aviso de chamada em espera, voice-mail, identificação do número ou números confidenciais, facturação detalhada, lista telefónica, etc e etc. No meio de tanta sofisticação havia um modelo de telefones da Siemens que tinha um visor onde se podia ver o outro interveniente. Este telefone não teve aceitação nos nossos clientes talvez pela estranheza para a época de tal funcionalidade ou pelo valor do mesmo, na Alemanha também foi descontinuado. Suponho que na altura a videoconferência fosse simplesmente demais.
Seguiram-se os faxes, bips´s e telemóveis de "chumbo", depois vieram os modens com as suas luzinhas e apitos que nos ligavam à net.
Aí surge a minha primeira experiência em teletrabalho. Recordo-me em noites de temporal na Madeira de pijama em casa ligar o modem estabelecer a ligação ou melhor desligar e ligar 100 vezes e depois aceder à central digital para ver os alarmes que havia para distribuir pelas diferentes equipas de prevenção. Era uma empresa que privilegiava sempre o serviço ao cliente. Geralmente eram problemas de transmissão ou de energias e as povoações ficavam isoladas.
Apareceram as salas de videoconferência. Cheguei a ser responsável operacional pela unidade do Funchal, eram umas salas sonorizadas e bastante sofisticadas que alugávamos aos clientes para fazerem reuniões com os seus parceiros de negócio noutros pontos do globo. O que se aproxima mais ao actual Zoom ou Hangout, mas saindo do conforto e descontracção do nosso lar e tudo feito com outro protocolo e rigor que o ambiente assim o exigia.
Com a tecnologia móvel tudo cresceu, os telemóveis foram evoluindo ficando cada vez mais robustos, aperfeiçoados e com funcionalidades inimagináveis. Dando-nos o que nem precisávamos até ao dia de hoje.
E entrou a fibra e tudo deu novo pulo. A rede ganhou outra fiabilidade, segurança e rapidez. Os computadores transbordavam aplicações, estávamos ligados por áudio e vídeo ou mesmo pela escrita era correio virtual e mensagens, jogos, programas para trabalho ou meramente recreativos, clouds, motores de busca, arquivos, informação de toda a espécie, etc. Mais uma vez foi-nos oferecido mais do que precisávamos e quantas vezes nos interrogamos para que serviria tanta parafernália tecnológica.
Até ao dia de hoje.
Quando estamos confinados à nossa casa e ela tem que ser o nosso lar e o nosso local de trabalho; ela tem que ser a sala de reuniões para reunir com o cliente; tem que ser o café para trocar impressões com os colegas de trabalho, amigos ou família; tem que ser o nosso ginásio; igreja; shopping; tem que ser a sala de aulas dos mais pequenos ou universitários; tem que ser o recreio da escola e tantas outras coisas mais que a vida nos desafia neste infame momento e nós com a nossa imensa capacidade de adaptação nos reinventamos.
Com todo o meu espanto constato que estive toda a minha vida profissional envolvida para preparar o país para este momento da História da Humanidade como colaboradora de uma empresa de telecomunicações.
Já não trabalho para a Altice agora faço algo completamente diferente, mas que me dá imenso gozo e prazer, sou consultora imobiliária. A palavra teletrabalho ganhou nova dimensão. Na minha nova actividade profissional só tenho que agradecer às empresas de telecomunicações que facultam a possibilidade de todos nós podermos continuar com a vida profissional; que possamos dar apoio e comunicar com a família, grupo de amigos e colegas de trabalho quer seja por voz ou via outra plataforma que forneça o serviço áudio e vídeo; que os mais novos possam continuar com o seu projecto pedagógico e educativo; poder fazer compras que de outra forma é impossivel; usufruir de aplicações de lazer ou outras que nos fazem aprender, crescer ou só mesmo entreter.
Agora vejo-me a falar com os meus clientes a propor reuniões via internet, a sugerir open houses virtuais ou visitas virtuais aos seus imóveis, a querer vídeos do interior do mesmo porque a situação assim o exige e convém colocar no link de promoção do imóvel toda a informação possível e mais alguma porque até há quem compre casa via internet. Algo que seria irreal no mercado Português.
Encontro-me associada a uma empresa americana e constato como eles já aproveitavam e exploravam todas as plataformas tecnológicas em proveito do negócio por isso se encontram num nível muito superior ao nosso, a vantagem é que se aprende imenso com eles. Nós somos mais da proximidade, do olhar directo, do “tacto”, da informalidade, estes comportamentos já estão a ser alterados por outros mais distantes e técnicos sendo igualmente funcionais e produtivos. Nada vai ficar como era dantes.
Só penso como seria este planeta se o diabo do Corona vírus tivesse aparecido há 30 anos. Se o país está quase parado aí teria afundado completamente e a palavra confinação ainda seria mais dura, mais pesada, mais pobre e mais só.
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