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Devia ter uns 8 anos quando vim morar para a região de Lisboa. Até lá tinha vivido em Angola, Guiné, Lamego, Vila Real de Santo António. Era assim uma espécie de cigana intercontinental, era e acho que continuo a ser.
Ao chegar a Lisboa lembro-me de perguntar aos meus pais se a margem Sul do Tejo era Espanha. Da minha experiência por terras Algarvias aquilo de duas margens de rio com um barco para fazer a ligação o outro lado só podia ser Espanha. Desde pequena sempre me encantou o Tejo e os cacilheiros.
Embora tenha vivido em Oeiras até aos meus 24 anos nunca tive grande proximidade e também não desenvolvi particular interesse pela margem Sul, basta dizer que nunca fui a uma praia da Costa da Caparica, ou nunca tinha visitado Almada, Trafaria ou Cacilhas, até mesmo o Cristo Rei. Tão perto e tão longe.
A única coisa que sempre tive curiosidade era atravessar o Tejo num cacilheiro, isso sim e desde criança.
A semana passada li a notícia que estava um cacilheiro à venda por 25 mil euros. Fiquei preocupada, daqui a dias já não existe nenhum na frota da Transtejo e eu nunca viajei num daqueles barcos tão característicos do nosso rio.
Sábado desprezei as minhas lides caseiras, as inadiáveis compras do supermercado, as rotinas do sábado de manhã e recrutei os elementos da família que estavam com vontade de fazer uma viajem de cacilheiro e uma mini incursão pela margem Sul. Lá fomos de manhã até ao Cais do Sodré apanhar o barco.
A viagem foi excelente, o velho e cansado cacilheiro cumpriu a sua missão. A vista que temos ao atravessar o rio Tejo percorre a Ponte Vasco da Gama até à Ponte 25 de Abril. Lisboa é linda vista sobre aquele prisma e com aquela luz. Assim como a aproximação a Cacilhas se revela muito interessante. Tanto para ver e descobrir, é tão bom ver as coisas com outros olhos, por outros ângulos.
Após desembarcarmos em Cacilhas seguimos ao longo do rio. Apesar de a marginal estar decadente, os antigos armazéns ou fábricas que ali existiram estarem a desmoronar-se, tem um certo encanto. É interessante ver o que tinha existido atrás aquelas fachadas, algumas ainda com azulejos antigos e pormenores curiosos. No fim da marginal encontra-se o elevador panorâmico, ponto bastante atractivo, tem um jardim bastante simpático e cuidado. O elevador é envidraçado e durante a viagem temos uma vista fantástica sobre a margem Norte. O elevador Boca do Vento liga a margem do rio a Almada velha, a maneira mais fácil e simpática de visitar o Cristo Rei.
Para chegar ao Cristo Rei temos que atravessar Almada velha, é um passeio a pé de cerca de 30 minutos sempre a subir. Almada velha uma desilusão, suja com lixo espalhado pelo chão e pior ainda os passeios servem não para os peões utilizarem e sim é onde se estaciona os carros naquela cidade. Se tens problemas de mobilidade, se tens uma criança e necessitas de uma cadeirinha para a transportar, ou sofres qualquer outra limitação evita atravessar Almada, uma verdadeira gincana para os peões. Não percebo como numa rota turística como aquela a Câmara de Almada não se preocupa em respeitar os seus visitantes já para não falar em quem lá habita e dignificar a cidade com uma aparência cuidada e promovendo alguns princípios básicos de cidadania até mesmo higiene.
Chegámos ao Cristo Rei, este monumento tem 2 parques de estacionamento mas mais uma vez os carros estão no passeio, a dificultar a vida aos transeuntes. Mais uma vez não percebo a falta de cidadania dos nossos conterrâneos, aqui não se pode dizer que são habitantes de Almada e sim turistas nacionais ou não que se deslocaram de carro para visitar aquele monumento. Após mais uma odisseia chegámos ao Cristo Rei.
Um panorama de tirar a respiração, lindo. Um ecran gigante, um postal. Não subi ao topo do Cristo Rei, mais uma vez as minhas vertigens traíram-me. Mandei a família tirar fotografias por mim e gozarem ao máximo com a vista. Pois se de baixo é magnífica no topo do Cristo Rei deve ser fantástica. Lisboa nunca decepciona, tivemos sorte pois estava um daqueles dias de luz sobre Lisboa, onde temos a certeza que a luz de Lisboa é única.
Vale bem a pena fazer esta mini excursão tão perto, tão acessível e tão reveladora da nossa cidade e arredores. O tipo de programa que vale para toda a família desde a mais pequena ao mais velho, ficaram agradavelmente surpreendidos.
Ainda passeámos mais um pouco, visitámos Cacilhas que é muito agradável.
No regresso viemos um pouco mais cansados, mas mesmo assim no barco foi mais uma sessão fotográfica a bordo. Quer na ida como no regresso os ocupantes do cacilheiro eram maioritariamente turistas não como nós Portugueses e sim estrangeiros. Eles então estavam rendidos ao trajecto.
Consternou-me identificar os poucos Portugueses que lá estavam e via-se que o usam como meio de transporte regular. A sua apatia, o seu desinteresse pelo céu, rio ou pela vista privilegiada que se tem das duas margens mais a vista das duas pontes é desconcertante.
É um graça poder desfrutar da beleza do Tejo e a sua envolvência diariamente. Até para aliviar a carga das nossas vidas convém não nos abstrairmos destas pequenas prendas que a natureza nos dá generosamente, são pormenores retemperadores e fonte de energia para o nosso quotidiano.
Boa semana