A insustentável beleza das Kokedamas.
Amélia Folques
Kokedamas é uma técnica Japonesa onde se cria uma estrutura esférica forrada a musgo com uma planta. Sendo essa uma arte Japonesa a execução de uma Kokedama pauta-se pela paciência, a técnica, a organização em todo o processo. O resultado final é uma planta ornamental cujo vaso é a sua raiz envolta numa base de musgo. O efeito visual é de uma simplicidade extrema mas com traços de uma sofisticação discreta só possível vindas de Oriente onde a arte de tratar plantas é algo que cultivam e desenvolvem há milhares de anos. Onde o minimalismo é imperativo.
Uma Kokedama acrescenta ao espaço onde a colocas um toque de beleza, arte, evasão. Remete-nos para locais de contemplação e meditação, para paz e harmonia.
A Kokedama pode ser apresentada em cima de uma base mas para o seu efeito ser mais potenciado é preferível que a suspenda, como uma planta aérea. Suspensa evidencia a sua graça e leveza.
Ando sempre à procura de coisas que me ajudem a ausentar-me da rotina. Não que a rotina por si seja algo errado ou mau, é necessária mas temos que a quebrar para nos reorganizar e reequilibrar, não sermos engolidos por ela. Tenho que me abstrair por momentos do meu eu como mãe, mulher, funcionária de uma empresa, dona de casa, irmã, filha, e mais mil e uma coisas que constituem a minha vida. Isto é de tudo que exija de mim atenção, responsabilidade, respostas, tempo, preocupação, desgaste, trabalho. Porque a rotina envolve todos estes sentimentos, estados de espirito em grande escala, numa exponencial. Para me revitalizar preciso de instantes ou mesmo de um curto período de tempo com total ausência do quotidiano.
Falaram-me deste workshop no Porto de Kokedamas. Já conhecia as ditas plantas e admirava o engenho e arte ali existentes. Tive a sorte de ter umas amigas que também se interessam por botânica e fomos até ao Porto assistir a esta aula.
Este tipo de trabalho enquadra-se na perfeição na minha constante busca por coisas que acrescentam algo, que abrem outras janelas e fornecem outra compreensão da vida, ou mesmo que nos reaproximam da própria essência da vida. Mexer nos elementos como a terra e água é algo ancestral e inato ao ser humano. Vem de longe esta proximidade e nos remete às origens. Origens essas que nos distanciamos com a azáfama do dia-a-dia. Colocar as mãos na terra, brincar com as raízes, separar bolbos, mexer na água, regar as plantas é o tipo de exercício que nos ajuda a descomprimir, descontrair e nos leva ao encontro dos elementos vitais para a nossa existência. Direcciona para o que realmente é importante, para o mais elementar da nossa vida. Coloca em perspectiva a nossa existência. Atolados no acessório ou desnecessário por vezes inconscientemente e sem reflectir pois a vida como a vivemos não deixa muito espaço ao pensamento e nos tornamos cópias uns dos outros, autómatos de uma vida, quais ratos numa roda dentro de uma gaiola.
Neste workshop de Kokedamas aprendi efectivamente a fazer uma Kokedama. Conheci gente diferente desde a idade, nacionalidade, motivações ou mesmo ambições de vida. Levou-me á Terra não só aquela em que se mexe e planta e sujam-se as mãos de uma forma positiva e criativa mas sim por me levar à Terra como um todo imprescindível para a nossa harmonia interior e exterior. Terra essa que a usamos abusivamente e nunca a valorizamos.
Enquanto estive dedicada e interessada nesta experiência, aprendendo e desfrutando da aprendizagem, com os sentidos acordados e estimulados pelo prazer no que se estava a criar, revisitei a minha natureza e recentrei o meu eixo. Porque o nosso eixo é constantemente afectado e abalado.
Sinceramente não sei que motivações levam os Japoneses a criar Kokedamas ou Bonsais. Mas estou em crer que deve ser pela mesma razão que encontrei, o efeito terapêutico que daí advém. Um balsamo para o corpo e alma, uma fonte de energia positiva.
Koke (musgo)
dama (bola)
O workshop realizou-se no Hortus Conclusus- Porto. O professor excelente, o espaço fantástico. Recomendo vivamente.O Professor é Interessante, entendedor, culto e adora o que faz levando-nos atrás com tanto entusiasmo. Assim é facil aprender ...