Não somos ilhas.
Amélia Folques
Fui tomar um café com uma amiga, conversando comentámos sobre o afastamento de uma amiga em comum. Estava com namorado novo essa amiga em comum. Embora tivesse essa relação recente nem por isso parecia mais feliz, surpreendentemente tinha-se isolado de todos nós.
Pensando nesse caso cheguei á conclusão que um sinal nas relações a dois que indica que a relação é tóxica, venenosa mesmo, é quando um dos elementos que a constituem tenta afastar o outro do grupo de amigos ou da família. É um alerta urgente de ser analisado que facilmente se confunde com o outro nos amar tanto que só nos quer para ele, ter tanto interesse e necessidade que todo o tempo é gasto só e exclusivamente com o outro.
Se tens uma relação amorosa e essa pessoa não te apresenta os seus amigos ou a família, não te introduz no seu mundo, no seu núcleo de amizades e afectos alguma coisa está errada. O mesmo acontece quando não se quer que o outro tenha amizades, conviva com os seus entes queridos até então.
Os teus amigos te definem e acrescentam algo á tua personalidade, moldam o teu estilo de vida, expressam a forma de estares na vida. Só conheces verdadeiramente o outro se conheceres os seus amigos e família, só conheces o outro se conheceres o ambiente onde se desenvolveu e cresceu. Os amigos e a família dão-te estrutura, corpo, são pilares de ti. São o passado e presente.
Se estiveres com alguém que te afaste e tente negar essa parte de ti é porque não quer conhecer-te verdadeiramente, a tua essência. Pode querer muitas coisas mas não é o teu verdadeiro eu. Só ama parte de ti, egoisticamente não te quer como um todo.
O mesmo se aplica quando estás com alguém que não te quer incluir, envolver no seu grupo de amigos ou família. Não se quer dar a descobrir, a revelar, a desnudar a sua pessoa. Reserva-se e não se expõe. Nunca o conhecerás a sério.
Se os dois mundos não coexistirem e ajustarem-se, fundirem-se ficarás sempre fracturado.
A relação é superficial e desequilibrada. Pois excluirmos quem nos apoiou, esteve lá connosco e para nós, com quem partilhámos momentos bons ou menos felizes é como nos amputarmos. Não somos ilhas, e toda essa gente que nos acompanhou até termos uma nova relação amorosa tem um pouco da nossa história para contar e algo a acrescentar.
Com eles crescemos e vivemos por isso toda essa partilha de informação com o objecto amoroso da nossa relação é uma mais-valia para nos desvelar aos olhos dele. Por vezes de uma forma positiva e correndo o risco de também poder ser negativo.
Mas ninguém é perfeito nem os amigos, nem a família. Mas são parte de nós, formamos um mundo e não uma ilha.
Pintura: Margarida Cepêda