O azul perfeito do Lápis-lazúli .
Amélia Folques
O azul tinge a tristeza. Escuro como o mar de Inverno que me traga.
Impiedoso e monstruoso na sua frieza. Vem de assalto, toma-me, esmaga.
Fico sujeita à sua crueza. Rasga a eterna chaga.
Como a cor desta caneta, que me liberta, desta angústia que me desorienta.
Como se esta folha imaculada fosse uma bóia para me salvar.
Escrevo sem nexo, como se a minha alma fosse analfabeta.
De Lápis-lazúli se faz a cor do presente.
Fria e protectora a cruz que jaz no meu peito,
Feita dessa pedra que me sequestrou lentamente.
De azul abismal raiado de ouro perfeito.
Não haveria tristeza tão dolorosa se não houvesse amado tão profundamente.
Assim como a imensidão do mar que me quer devorar.
Tive as estrelas douradas no crepúsculo para me encantar e a ti para amar.
Agora para recordar.