Prendas que são verdadeiros "penicos".
Amélia Folques
Adoro um presente, acho que eu e talvez 95% da população mundial. Adoro aqueles que me surpreendem, que fico com cara de Uauhh!!.
O incrível é que um presente para ser fantástico não tem de ser propriamente de valor elevado.
Isto a propósito de um presente que não era para mim mas sinto-o como meu. Guardo como se fosse uma peça única de cristal delicadíssimo.
Os meus filhos na semana passada ao mexerem nuns caixotes que estão guardados desde a última vez que mudei de casa perguntaram-me porque raio eu tinha guardado um penico de plástico verde alface bem fluorescente. Se aquilo não devia ir para o lixo. Arrepiei-me toda.
Tal como a música da Ágata no seu refrão:
Podes ficar com as jóias, o carro e a casa
Mas não fiques com ele.
E até as contas do banco, e a casa de campo,
Mas não fiques com ele.
O meu “ele” é o dito penico.
A história do penico para mim é de uma ternura, de ajuda e generosidade, de amor que me toca profundamente.
O penico foi comprado por um dos meus filhos para oferecer á irmã mais pequena, não sei precisar se foi quando ela fez 1 ano. O meu filho teria uns 12 anos. Ele queria uma prenda para a irmã e não me pediu dinheiro, o dinheiro que ele tinha era dos trocos que lhe dávamos para um bolo na escola ou algum extra. O conceito de mealheiro nunca funcionou com este meu filho. Quando tinha dinheiro a mais era logo para algum jogo para o computador ou a Nitendo, Game boy ou algo do género.
Foi à Pré-Natal porque sabia que eu gostava dos produtos dessa loja. Andou à procura de alguma coisa que achasse útil ou engraçada para a mana mas com o dinheiro que tinha estava difícil a compra. Até que uma empregada da loja foi ter com ele para o ajudar. O meu filho explicou que gostava do penico, era giro e a mana iria precisar de um. Ao ver o dinheiro que tinha a empregada viu o problema. Então perguntou-lhe se a mãe tinha cartão da loja, como por vezes me acompanhava nas compras sabia que sim e disse o meu nome. Então a simpática e generosa funcionária ajudou-o com os pontos que eu tinha no cartão e assim o meu menino comprou o dito penico.
Faltaram uns 3 euros e ela não lhe disse nada. Um dia que fui á loja a funcionária identificou-me e contou-me a história.
Agradeci-lhe do fundo do coração e paguei o que devia que não era nada mesmo comparado pela alegria que ela me tinha dado pois conseguiu que o meu filhote se sentisse realizado e feliz e eu, bem não há preço quando se vê um miúdo chegar a casa radiante com um saco grande onde vinha um embrulho de alguma dimensão contendo uma prenda para a irmã bebé. Uma prenda que no mínimo era inesperada.
É irónico como um penico pode demonstrar sentimentos tão nobres. A ajuda entre os Homens na sua forma mais pura, desinteressada e genuína, a generosidade, a bondade, o carinho e o amor de um irmão.
Talvez o maior presente sejam sempre as pessoas, com o melhor que elas albergam e assim nos surpreendem. Neste caso a senhora que trabalhava na Pré-Natal, que foi um anjo para o meu filho e o meu filho que me encantou completamente com a surpresa para a irmã.
O valor das coisas está em nós como as sentimos e não no objecto propriamente dito. Por isso é que existem “penicos” que valem ouro.