Sal q.b.
Amélia Folques
Tenho visto ultimamente um crescente número de casais desavindos. Não sei se foi da dita pandemia, se é o peso dos anos, das rotinas estabelecidas e poucas perspectivas de um futuro mais leve, o que é certo é que as separações aumentam.
Ia eu no carro, é o único sítio onde oiço música tranquilamente e sai-me o Gary Moore ,Still Got The Blues. Fiquei retida na frase era tão fácil apaixonar-me novamente, e pensei que isso é tudo menos verdade. Talvez o maior erro de todos é assumirmos que esse sentimento é facilmente alcançável. Do que tenho vivenciado se em toda a vida esse sentimento acontecer mais do que duas vezes é um milagre. Tudo o resto a que chamamos paixão é uma imitação ténue daquele sentimento poderoso, avassalador, embriagador que é a verdadeira paixão. E todas as relações para serem duradouras e sustentáveis têm que o ter como base.
Não vale a pena iludir-nos que uma relação amorosa pode viver sem esse ingrediente fundamental, é como o sal para a comida, sem ele a comida é insonsa.
Se houver paixão há entrega, há força, esforço e vontade para que tudo resulte, há um compromisso não verbal, mas implícito entre as duas partes. É química, é intuição, é tacto, é pele é cheiro, enfim são todos os sentidos
Talvez seja o único sentimento em que estás disposto a ficares para último plano se isso for benéfico para o outro elemento. É um sentimento altruísta e egoísta ao mesmo tempo.
Como a genuína paixão é tão difícil de se alcançar e todos nós almejamos esse sentimento muitas vezes criamos relações com a ilusão que ele está lá. Não é por mal, é só mesmo por sonhar com uma relação idílica. A ilusão de estarmos a viver um grande romance, um grande amor.
Após os embates da vida, as exigências do dia-a-dia, os desafios e provas a que os casais estão sujeitos se não houver essa componente extraordinária tudo irá ruir. Ao contrário do sal na comida em que podemos rectificar com o prato na mesa, esse sentimento terá que surgir no início, não vem com o passar do tempo. Um erro irremediável.