A lei da bola.
Amélia Folques
Será que a proibição de haver jogos de futebol nos dias em que há actos eleitorais vai aliviar a percentagem elevadíssima de eleitores que não exercem o seu dever, direito de voto?
Acho que não é por aí que se vai “educar” ou “motivar” o dito povo a exercer esse acto.
Ontem assisti a um debate na TvI24 sobre as autárquicas, Município de Loures. Os políticos convidados, os putativos futuros Presidentes desta Câmara estiveram ¾ do tempo do debate a discutir as ideias do André Ventura, pensei será que o tema deste painel é a personagem André Ventura. Após andarem a ver quem seria o menos racista, xenófobo, ou retardado mental restaram cerca de 3 minutos para cada um apresentarem a sua agenda para o município na próxima legislação, Portugal dos pequeninos. Isso é assistir á perfeição de um debate politico.
Agora vamos fazer um esforço e lembrar notícias antigas ou mesmo recentes dos nossos impolutos Presidentes de Câmara. Primeiro nunca são abonatórias ou dignificantes para os senhores ou senhoras, segundo deixam-me sempre espantada com a “lata” das personagens, terceiro é mau demais para ser verdade. Desde a inesquecível Fátima Felgueiras, a nossa foragida de estimação com o patrocínio e ajudas de custo na sua odisseia pagas pela Câmara, ao actual Presidente da Câmara de Vila Real de Santo António que autoriza um hotel a 15 metros da praia em Monte- Gordo numa zona interdita a construção e instalação de imóveis, ao Senhor de Sintra que só se engana nuns zeros na avaliação da sua fortuna, como 5.600 euros fosse mais ou menos a mesma coisa que 5.600.000 euros. A casa do Medina mais outra história mal contada com valores pouco claros e contornos sinuosos. Temos o nosso clássico gang Nacional: Isaltinos, Valentins e afins, podia continuar com uma lista infindável da nossa excelência camarária, todos com mandatos mais ou menos duvidosos a servir clientelas e interesses muito particulares quando não a favor da própria família.
Todos eles alegam que são vítimas de manobras eleitoralistas, denuncias anónimas maliciosas, invejas quando não cabalas. Porém existe um princípio que deveriam seguir escrupulosamente, á mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta. Evitavam muita confusão.
Se os nossos políticos fossem sérios, honestos, se tivessem um projecto consistente visando a causa pública e os seus munícipes jamais haveria as taxas de abstenção ou votos nulos que existem em Portugal. O dito povo iria votar fizesse sol ou chuva, jogo de futebol ou até um chá dançante na associação recreativa do bairro.
O nosso poder político deveria se preocupar em reerguer uma classe que está tão mal vista pelos Portugueses, a deles. Deveriam escrutinar, seleccionar e serem exigentes com os seus pares e órgãos dirigentes. Deveriam fazer o trabalho para que foram indigitados e não o trabalho de saque à riqueza do Estado e jogos de poder e interesses dúbios. No dia em que isto acontecer tenho a certeza que todos irão votar com vontade e satisfação, voluntariamente sem proibições de actividades públicas nomeadamente desportivas.
Esta lei que querem impor é própria de um país ditatorial e infelizmente não vai mudar o nosso panorama político. O problema são eles não é o povo. Faz parte da arrogância tão inata aos nossos políticos o não reconhecer a sua culpa, especificamente ao descalabro do peso da abstenção em Portugal. Dizem que a culpa é da nossa democracia ainda não ter atingido a sua maturidade. Não atingiu e nunca irá atingir pois está refém dos profissionais da política, para eles porem e disporem da Res publica em proveito próprio. Enquanto a balança da democracia só carregar no prato dos deveres para o povo e o prato da balança dos direitos estiver praticamente vazio, não haverá leis para combater a ausência nas salas de voto que salvem o escrutínio final, a abstenção ganha sempre.
A nossa classe política é ávida de dinheiro e poder, é pobre de valores éticos, morais e democráticos. No dia em que começarem a defender a coisa pública, encararem o seu desígnio que é construir, criar, desenvolver em prol do nosso povo, do país não haverá o flagelo da abstenção.
Não nos atirem mais areia para os olhos, estamos demasiado cansados para mais brincadeiras. E por favor sejam sérios.